Se sou mais que uma pedra ou uma planta?
Não sei.
Sou diferente.Não sei o que é mais ou menos.
Fernando Pessoa.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Nudez


De súbito, uma saudade.
Daquele riso fácil, da falta de noção de mundo.
Da ignorância  a respeito da maldade como meio de poder.
Saudade de acreditar em uma igreja, em um partido, em uma pessoa.
Tudo muito bem organizado,
Nada a questionar , nem um mundo a salvar .
Isso já fazem uns bons vinte anos.Quando ainda existiam as quatro estações.
No tempo em que as tardes de inverno eram de uma luz limpa e o cheiro de bergamotas impregnava o ar...
E na chegada da primavera, as pitangas....
Ah, as pitangas!
Com todos os tons de vermelhos e roxos que se diziam pretos...
Amoras e frutinhas do campo....flores minúsculas... o vento no rosto....o cabelo emaranhado e sem a menor necessidade de ser diferente.
Tudo tão perfeito...pintura bucólica, poesia em estado líquido...
O pensamento da mocinha, porém já estava a percorrer novas sensações e realidades.
E nunca mais voltou.
A criança sem família,a morte, as drogas, as religiões que exigem subserviência. Um Deus que vê isso é bom ou é mau?O amor, o que é afinal?E o pecado?E que borboletas são estas a voar no estômago?
Leu a bíblia, estudou Buda , mantras e tantras, teve amores tantos e tontos.
E descobriu Freud,Charcot,Jung , Hannah e outros Pessoas que foram tecendo sua cabeça,
Desfazendo seu ser.
E nada mais veste sua pele agora.
Não existem padrões que compreendam sua alma.
A liberdade de pensamento é ampla e assustadora.
A solidão, subterfúgio para esta falta de semelhança.
As roupas de mocinha já não vestem a mulher...
O segundo passado já a fez novamente outra...
E daquelas tardes com sabor de pitangas?
Restou apenas a cor em suas unhas vermelhas.

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